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Em gravações, ex-cunhada “coloca” Bolsonaro dentro do esquema das ‘rachadinhas’


Não bastassem as interrogações sobre os possíveis desvios nas compras de vacinas na CPI da Pandemia, o presidente Jair Bolsonaro começa a semana com obrigação de dar mais respostas e explicações: agora sobre as supostas “rachadinhas” na época que era deputado federal.

Infelizmente, sabemos que vem por aí muitas agressões a jornalistas, alegações de que há um complô comunista para tirá-lo do poder. Mas bastaria apenas esclarecimentos.

É que em áudio divulgado pelo ‘UOL’, em reportagem da jornalista Juliana Dal Piva, a ex-cunhada do presidente, Andrea Siqueira Valle, disse que o presidente demitiu seu irmão, André Siqueira Valle, porque ele se recusou a entregar a maior parte de seu salário a Bolsonaro, que na época era deputado federal.

Ou seja, a ex-cunhada, que sabe da gravidade da acusação e, agora, vai precisar de proteção, colocou o presidente dentro dos esquemas das “rachadinhas”.

Segundo ela, havia uma imposição para que assessores do seu antigo gabinete devolvessem parte dos salários. Os filhos do presidente são acusados, há algum tempo, de enricar e desviar recursos públicos com a mesma prática.

De acordo com o áudio de Andrea, a prática seria feita por Bolsonaro na época em que ele esteve na Câmara Federal. O presidente foi deputado federal entre 1991 e 2018.

Segundo ela, o irmão André “dava muito problema, porque o André nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, André devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: ‘Chega, pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo”.

Parentesco

Andrea e André são irmãos de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe do filho mais novo do presidente, Renan. Andrea foi assessora de Bolsonaro na Câmara entre setembro de 1998 e novembro de 2006. Depois, trabalhou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (de novembro de 2006 a setembro de 2008) e de Flávio Bolsonaro (de agosto de 2008 a agosto de 2018), período em que ele esteve na Alerj.

Já André foi lotado no gabinete de Jair por pouco menos de um ano, entre novembro de 2006 e outubro de 2007. Antes, tinha trabalhado em dois momentos como assessor do filho “02” do presidente, Carlos: de agosto de 2001 a fevereiro de 2005, e de fevereiro de 2006 a novembro do mesmo ano.

Coronel da Reserva

De acordo com a ex-cunhada do presidente, o coronel da reserva do Exército Guilherme dos Santos Hudson era responsável em recolher grande parte de salário na época em que trabalhava no gabinete de Flávio. O militar, tio de Andrea, André e Cristina, foi assessor do então deputado estadual entre junho e agosto de 2018.

“O tio Hudson também já até tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele […] Na hora que eu tava aí fornecendo também, e ele também estava me ajudando, lógico, e eu também estava. Porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com R$ 7 mil. Então assim, certo ou errado, agora já foi. Não tem jeito de voltar atrás”, afirmou.

Os áudios devem motivar uma investigação que só aumenta a pressão contra o Planalto e, de alguma forma, após depoimentos e eventuais provas que possa surgir, vão derretendo o discurso de anticorrupção do presidente e da família Bolsonaro.


Por Laerte Cerqueira e Angélica Nunes

 

 

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