Câmara rejeita e arquiva PEC do voto impresso
A Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira
(10) rejeitar e arquivar a proposta de emenda à
Constituição (PEC) que propunha o voto impresso em
eleições, plebiscitos e referendos.
O resultado representa uma derrota para o presidente Jair Bolsonaro, que, sem apresentar provas, vem falando em
fraude no sistema de votação por meio da urna eletrônica e fazendo acusações
sem fundamento a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior
Eleitoral.
Para ser aprovada, a PEC precisava de, no mínimo, 308 votos. No entanto,
o texto elaborado pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) teve o
apoio de apenas 229 deputados. Outros 218 deputados votaram contra a
PEC, e um parlamentar se absteve. Ao todo, 448 votos foram computados.
Os 64 ausentes — entre os quais vários parlamentares de legendas
governistas — contribuíram para a derrota de Bolsonaro; na condição de
presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) é o único que não vota.
O projeto propunha a inclusão de um parágrafo na Constituição para
definir a obrigatoriedade da expedição de cédulas físicas conferidas pelo
eleitor nos processos de votação das eleições, dos plebiscitos e referendos.
A impressão do voto depositado na urna eletrônica é defendida por
Bolsonaro, que tem feito ataques sem provas ao sistema eleitoral e já ameaçou
agir "fora das quatro linhas" da Constituição.
Bolsonaro tem acusado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de
interferir no debate e, em diversas oportunidades, ameaçou
com a não realização das eleições em 2022 caso não fosse aprovada a
matéria.
A tramitação da PEC chegou a ser admitida pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em 2019, mas o mérito da proposta foi rejeitado pela comissão especial.
Na última semana, os membros da comissão rejeitaram parecer favorável à
PEC elaborado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), da base de governo. Em
seguida, aprovaram o relatório do deputado Raul Henry (MDB-PE) que
recomenda o arquivamento do texto.
Apesar de a proposta ter sido rejeitada na comissão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu levá-la ao
plenário para que todos os 513 deputados se manifestassem.
Nesta terça, os parlamentares decidiram enterrar de vez as discussões na
Casa.
Debates
Na primeira etapa da votação, seis deputados falaram a favor e seis
deputados falaram contra a PEC do voto impresso. Deputados alinhados ao
presidente Bolsonaro tentaram prolongar as discussões, enquanto os opositores
procuraram acelerar os debates.
Defensora do voto impresso, a deputada Caroline de Toni (PSL-SC)
reclamou da suposta interferência do Judiciário nos debates da Câmara sobre o
tema.
"Nós não podemos admitir que em uma democracia, em uma República, algo não possa ser questionado. Não podemos admitir que um tribunal, que não foi eleito pelo povo brasileiro, possa tentar interferir no processo legislativo desta casa como infelizmente vimos ocorrer durante a tramitação na comissão especial do voto impresso", afirmou a deputada.
"Voto que não é auditável e apuração que não é pública não vai ser fraude, já é uma fraude, em si mesmo", concluiu.
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), autora da PEC, afirmou que acompanhou
"a quebra de vários sistemas de segurança da urna eletrônica" e, por
isso, decidiu fazer do tema uma de suas bandeiras eleitorais.
"Essa não é a PEC do presidente Bolsonaro. Essa não é a minha PEC. Essa é a PEC dos brasileiros, que querem transparência nas eleições", declarou a deputada. "Por isso, eu peço que procuremos despolitizar a forma como vem sendo tratada essa PEC, que não corresponde ao seu objetivo", disse.
Líder do PSDB, o deputado Carlos Sampaio (SP) lembrou que pediu
auditoria das urnas eletrônicas em 2014, quando o então candidato à presidência
da República Aécio Neves (PSDB-MG) foi derrotado pela ex-presidente Dilma
Rousseff, e ao final do processo, nenhuma fraude foi constatada.
"Só para que vossas excelências saibam, o tempo que durou essa auditoria, que tive a honra de coordenar, foi um ano com técnicos do exterior, com técnicos do Brasil e com técnicos do TSE. Nesse um ano, ao final de 2015, lemos numa entrevista coletiva o resultado dessa auditoria. Havia alguma fraude? Não, nenhuma fraude foi constatada", afirmou.
A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) afirmou que o retorno do voto
impresso representaria um retrocesso de 25 anos e defendeu o impeachment de
Bolsonaro em razão de suas declarações sobre as urnas eletrônicas.
"Se tivéssemos que estar fazendo alguma coisa, nós deveríamos, sim, estar abrindo um processo de impeachment, deputado Marcel van Hattem. Esse, sim, com o apoio majoritário da população", declarou.
Durante a votação, alguns deputados que participavam remotamente da
sessão reclamaram ao presidente Arthur Lira que não estavam conseguindo
registrar o voto pelo celular — casos de Alexandre Padilha (PT-SP) e Gonzaga
Patriota (PSB-PE), por exemplo. Ambos se posicionam contra o voto impresso, mas
aparecem no registro da Câmara como "ausente".
Por G1
Nenhum comentário