Estudo aponta que combinação das vacinas CoronaVac e AstraZeneca produz mais anticorpos
A publicação mostra que a inoculação com o esquema CoronaVac, da
farmacêutica Sinovac, em combinação com o imunizante da farmacêutica
AstraZeneca produz quase quatro vezes mais anticorpos neutralizantes que o
esquema com duas doses de CoronaVac e pouco mais de três vezes mais do que duas
doses de AstraZeneca. É importante dizer que esse estudo avalia o esquema com
duas doses e não o chamado “reforço”.
Os especialistas avaliam os indicativos como importantes e positivos,
mas alertam que ainda não se trata do estudo que definirá a necessidade da
intercambialidade — como é chamado esse processo de combinação — das vacinas.
— O trabalho mostra a produção dos anticorpos neutralizantes contra a proteína spike, mas isso não é sinônimo de que a pessoa estará protegida. Porque ainda não conhecemos o chamado correlato de proteção (volume necessário de anticorpos para estar imunizado contra a doença) — explica Salmo Raskin, médico geneticista e diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba.
A análise — ainda não revisada por outros especialistas — foi realizada
por pesquisadores do Centro de Excelência em Virologia da Universidade de
Chulalongkorn, na Tailândia. O país é um dos que adotam o uso do imunizante
produzido pela Sinovac, assim como Brasil, Chile e Turquia.
O grupo que recebeu a combinação de doses diferentes era formado por 77
pessoas; outras 79 receberam duas doses da CoronaVac; e 80 participantes, duas
doses da AstraZeneca. Os grupos contavam com homens e mulheres, alguns com
doenças relacionadas — mais comuns no grupo que recebeu AstraZeneca.
— É uma boa notícia. O estudo fortalece as medidas que têm sido tomadas no mundo todo. O que se espera agora são novas análises que ampliem o número de participantes e tragam novas informações em relação ao esquema heterólogo (quando há a combinação de plataformas distintas num único esquema de imunização) — diz Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Essa análise, em especial, toca em um ponto importante para o país.
Juntas, CoronaVac e AstraZeneca correspondem a 79,5% dos imunizantes aplicados
no Brasil. E ambas têm processo de transferência de tecnologia (que consiste em
repassar o segredo de fabricação a outro país) previstos. A primeira para o
Butantan e a segunda para a Fiocruz — que já iniciou a fabricação da
matéria-prima. O infectologista e diretor médico do grupo Fleury, Celso
Granato, classifica o estudo tailandês como “muito útil” por apresentar uma
situação que remete à imunização brasileira e suas principais vacinas. Embora a
análise não leve em conta, ele explica, as variantes Delta e Gama, em
circulação por aqui.
Realidade no Brasil
Se há poucas semanas o uso de plataformas combinadas de vacina figurava
como uma incerteza entre os gestores de saúde, aos poucos ela ganha espaço nas
decisões acerca do programa de vacinação brasileiro. A mais importante delas
foi tomada pelo próprio Ministério da Saúde, que determinou que o regime de
terceira dose nos pacientes com idade superior a 70 anos e imunossuprimidos no
país não incluirá a CoronaVac — responsável por dar o pontapé inicial do
programa de imunização brasileiro.
A decisão já começa a reverberar nas gestões locais. O estado de São
Paulo, por um lado, diz que manterá a CoronaVac na lista de vacinas elegíveis
para a dose de reforço — a ser oferecida para os maiores de 60 anos a partir do
dia 6. Salvador (BA), porém, iniciou a aplicação das vacinas nas pessoas com
mais de 80 anos na última segunda, sem o uso da CoronaVac.
— Conhecer o esquema heterólogo por meio de estudos é importante porque vamos precisar fazer doses de reforço, precisamos dessa referência. Além disso, se faltar uma vacina, podemos complementar o esquema com outro imunizante. Como ocorre com vacinas de outras doenças — diz Alberto Chebabo, da Sociedade Brasileira de Infectologia.
A resposta mais definitiva sobre o tema — em relação à CoronaVac — será
conhecida quando o ministério apresentar os resultados iniciais do estudo que
encomendou à pesquisadora Sue Ann Costa Clemens, da Universidade de Oxford. A
análise avaliará o uso combinado de todas as vacinas do Programa Nacional de
Imunização, fazendo as vezes de reforço para 1,2 mil pessoas previamente
vacinadas com CoronaVac. A própria vacina da Sinovac será usada para a
avaliação, como dose extra.
Por Mariana Rosário / O GLOBO
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